Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Em primeiro lugar e antes de mais nada: toda a solidariedade ao prefeito de São José dos Campos, Felicio Ramuth (PSD), que foi pego em uma emboscada na manhã dessa sexta-feira (4) quando recebia, na condição de autoridade maior do município, o presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e sua comitiva para assinar simbolicamente a nova concessão da rodovia Presidente Dutra.

Digo simbolicamente porque, na verdade, essa assinatura do presidente já teria que ter ocorrido antes. Caso contrário, por exemplo, os novos valores dos pedágios e a gratuidade das motocicletas não poderiam ter começado a vigorar a partir da terça-feira, dia 1º de março. Ou seja, foi uma “solenidade” política.

Na coluna Política & Políticos da quarta-feira (2), que eu também assino semanalmente aqui no SuperBairro, o título foi o seguinte: “Bolsonaro e Tarcísio armam ‘palanque’ nesta sexta em SJC”. Depois de publicada a coluna, percebi que uma minoria do tipo “um ou dois” criticou o “viés” de campanha ou pré-campanha eleitoral para garantir que o encontro seria apenas uma solenidade oficial do Governo Federal. Nada mais ingênuo ou mal-intencionado.

Atuo como jornalista em São José dos Campos desde o dia 8 de dezembro de 1977. Peço respeito a esta antiguidade. Se até hoje não fui “cancelado”, como costumam dizer os mais jovens, é porque, entre acertos e erros, nunca me pegaram com “a boca na botija”, como se dizia antigamente.

Desde o início do trabalho aqui neste SuperBairro, que vai completar um ano no próximo dia 23, procuro, junto com todos os jornalistas e intelectuais que fazem parte deste projeto, mostrar que todas as correntes de opinião devem ser respeitadas e terem espaço neste portal de notícias. Com exceção, é claro, das correntes não democráticas.

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Noite na cervejaria

“Na noite de 8 para 9 de novembro de 1923, um jovem de ascendência austríaca invadiu um comício político que era realizado em uma das maiores cervejarias de Munique, na Alemanha. De arma em punho, falou aos presentes na movimentada cervejaria sobre a ‘revolução social’ que devolveria à Alemanha a glória que havia perdido após a Primeira Guerra Mundial.

Muitos dos ali presentes não conheciam aquele homem de 34 anos que lutou na guerra –e foi ferido– e que mais tarde tentou, sem sucesso, se tornar artista. Mas alguns sabiam quem ele era: Adolf Hitler, o líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemão (NSDAP), mais conhecido como partido nazista.

Naquela noite, Hitler e seus seguidores invadiram o comício, fazendo três generais reféns e levando-os para uma sala separada, onde foram convidados a se juntar à causa e ser leais aos nazistas. Sua missão era derrubar a República de Weimar.

E tudo começaria ali, naquela cervejaria.

O que aconteceu naquela noite e nos dias seguintes deu a Hitler a imagem pública de que precisava para se tornar, anos depois, o Führer, o líder da Alemanha nazista.”

O texto acima é uma transcrição, com leves correções de estilo e pontuações, de um texto publicado pelo site da BBC News Brasil no dia 19 de dezembro de 2021.

O texto é atual e representa um alerta muito mais atual.

Dia no Vale Fest

Você leitor, seja de direita, centro ou esquerda, provavelmente irá dizer que a minha lembrança do início do nazismo na Alemanha é muito forte e não tem nada a ver com os dias de hoje. Respondo a você, mais que depressa: “Deus o(a) ouça”.

Mas o que aconteceu na manhã dessa sexta-feira, dia 4 de março, bem atrás do antigo posto da Polícia Rodoviária Federal, no Km 156 da via Dutra, não tem nada de puro, santo ou ingênuo. Pelo contrário: é política da pesada.

Às vésperas, as postagens nas redes sociais falavam em grande concentração de apoiadores do presidente, falavam em motociata, provocavam os veículos de comunicação com o repetido xororô de que não iriam divulgar o evento e, ao mesmo tempo, convocavam os militantes.

Deu no que deu. Se a deputada estadual Leticia Aguiar (PSL) garantiu em uma live no Facebook que seria um evento “tipo” oficial de assinatura da nova concessão da Dutra, com certeza ela mesmo sabia que “o bagulho estava irado”. Não era uma solenidade oficial somente, era um grande comício pré-eleitoral.

Só quem não percebeu isso foi o prefeito Felicio Ramuth, o vice Anderson Farias e os demais presentes que integram o primeiro escalão da Prefeitura. Entraram na toca do leão inocentemente. A pergunta que fica: o prefeito é obrigado por lei a estar presente quando o presidente da República vai à sua cidade?

Se não pode se ausentar, deveria poder. Afinal, ninguém merece cair em uma “arapuca” como a que estava prevista na manhã dessa sexta-feira.

Se pode se ausentar, deveria usar esse direito. Afinal, ninguém merece ser submetido a um tratamento desse tipo que a turba lhe ofereceu sendo ele a primeira autoridade do município.

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Daqui pra frente

“Daqui pra frente, tudo vai ser diferente”, como cantava o ídolo Roberto Carlos nos anos 70. Pelo menos aqui em São José dos Campos, todos os que têm mandato político, os militantes, os simpatizantes e os “neutros” em geral, deverão saber que a campanha –ou pré-campanha– eleitoral já está em pleno andamento. Ninguém mais tem motivo para desconhecer isso.

Dessa manhã de sexta-feira, ficam algumas lições:

1 – O presidente Jair Bolsonaro tem todo o direito de inaugurar, assinar contratos, acordos, sancionar leis etc., mas não pode admitir nem estimular a baderna em atos oficiais.

2 – O prefeito Felicio Ramuth, que ainda é a maior autoridade do município, deve avaliar sua participação em “solenidades” oficiais. Nenhum governante é obrigado a entrar em uma “toca de tatu” e ser massacrado dentro dela pelos seus adversários.

3 – Você, cidadão, que é eleitor e pagador de impostos, tem que se dar ao respeito. Ou você respeita a classe política e exige dela que respeite a sociedade, ou você vaia e não deixa o adversário se manifestar. Seja democrático.

Concluindo

Este artigo (não é uma crônica) não é nem de longe uma mera solidariedade ao prefeito Felicio Ramuth [se bem que ele mereça isto], mas vai além. É uma advertência sobre o preocupante grau de radicalização que está tomando conta da vida política no Brasil.

Como se costuma dizer entre o chamado “povão”, fica o apelo: “Menas, menas, pessoal!”. E fica o convite. O espaço aqui é democrático. Você pode opinar nas redes sociais do SuperBairro. Mas as ofensas pessoais e “fake news” serão excluídas, também democraticamente.

Em tempo – Publiquei este texto no sábado (5), antecipando a minha coluna habitual de terça-feira (8), devido à relevância do tema.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

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> Texto atualizado às 20h45 do dia 5/3/2022 para revisão ortográfica e de estilo.