“O vaidoso necessita dos demais, busca neles a confirmação da ideia que quer ter de si mesmo.”
José Ortega y Gasset*
Uma das vantagens –poucas – de ultrapassar os 50, 60, 70 anos de vida é, com certeza, a gente passar a ter uma visão mais despojada de nós mesmos e dos outros. Simplificando: a gente percebe que não está com “essa bola toda” e, bom também, vê que pouca gente está. Ou seja, estamos todos no mesmo barco.
Confesso que a renúncia à vaidade pessoal é um processo difícil e sujeito a recaídas. Venho percorrendo esse caminho há bastante tempo. Uma de minhas lembranças foi um susto que tomei, há alguns anos, ao abrir as páginas –papel ou internet? Não lembro– da Folha de S. Paulo.
Senti um frio na espinha ao ver uma reportagem sobre o crime organizado e o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, que estava no auge naqueles dias, com a população sendo ameaçada, muitas mortes, muitos extermínios. A assinatura do autor da matéria estava lá, grande, ridiculamente grande: Wagner Matheus.
Meu primeiro pensamento foi. “Esses canalhas estão tentando proteger o repórter que fez o texto e buscaram um nome no arquivo do jornal pra despistar!” Kakakaka. Vaidade, tola vaidade…
Trabalhei para a Folha por volta de 1982/83 e achei que lá nos anos 2000, sei lá, alguém iria buscar o meu nome no arquivo do jornal. Como dizia o radialista e vereador Roberti Costa, “ridículo, grotesco, estapafúrdio e caricato”.
Apesar de ser uma grande coincidência dois jornalistas assinarem exatamente com o mesmo nome, Wagner Matheus, com “w” e “th”, é claro que coincidências acontecem. E para meu azar, o xará resolveu escrever sobre a “guerra civil” carioca.
Para colocar a minha vaidade ainda mais no chão, basta uma consulta ao Facebook. Veja só: existem 32 Wagner Matheus, sete Vagner Matheus, seis Wagner Mateus, onze Matheus Wagner e dois Mateus Wagner. Ou seja, os pais de 58 bebês decidiram fazer esta combinação de nome e sobrenome, ou de dois nomes próprios, enfim, a minha individualidade não tem nada a ver com o meu nome.
A vaidade moderna também passa pela necessidade de “likes”, “curtidas”, “joinhas” etc. que muitas pessoas buscam satisfazer nas redes sociais. Sou membro, acompanho e gosto muito das fotos e dos fatos históricos que dois grupos de São José mantêm no Facebook, o SJC Antigamente e o Resgatando São José dos Campos. Nelas, pode-se assistir a um show de vaidades.
Acontece assim. Algum seguidor, ou o administrador da página, publica uma foto e, por exemplo, pergunta: “Você também descia pelo tobogã do Parque Santos Dumont?” Sim, sim, sim, chovem respostas dos saudosistas e, rapidamente, a postagem tem 300, 500, 800 curtidas e comentários.
Até aí, tudo normal. Até que, um mês, dois meses depois, vem um gaiato e faz uma “nova” postagem com a seguinte pergunta, talvez um pouco modificada: “Você também descia pelo tobogã do Parque Santos Dumont?”. E o internauta ganha 300, 400, 500 curtidas. Meses depois, a história se repete com outros internautas. Hehehe…
O que tudo isso nos ensina? Que a vaidade é um bicho que vive dentro de nós e que nós procuramos alimentar o tempo todo, das mais diversas formas. Mas este bicho é insaciável, nunca para de pedir mais e mais alimento.
Aí voltamos ao início deste texto. Talvez a experiência, a passagem dos anos, sejam necessárias para decidirmos matar este bicho por inanição, deixando de alimentá-lo com as nossas ações, as nossas roupas, os nossos carros, os nossos cargos etc. etc. Quem consegue fazer isso, vive muito melhor. Garanto.
Que belo artigo, hein? Xiii… esquece. Isso é pura vaidade. Preciso aprender um pouco mais…
*José Ortega y Gasset foi ensaísta, jornalista e ativista político, fundador da Escola de Madrid. Ortega é amplamente considerado o maior filósofo espanhol do século XX. Nascimento: 9 de maio de 1883, em Madrid, Espanha. Falecimento: 18 de outubro de 1955, em Madrid, Espanha. Fonte – Google / Wikipedia
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.