Foto / Lucas Figueiredo/CBF

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Pelo menos o excelente Casemiro lavou a alma dos torcedores daqui. Foi o melhor jogador brasileiro da Copa do Mundo de futebol no Catar. Fez um gol valioso e belo, converteu com categoria a sua batida de pênalti, enfim, podemos concluir: São José dos Campos cumpriu a sua parte.

Sem desmerecer, evidentemente, os demais jogadores da seleção –bons, nada mais que isto, à exceção do craque Neymar–, uns cumprindo bem a sua missão, outros nem tanto. A verdade é que não bastou o nosso joseense nem o genial menino Ney para sermos novamente campeões. Pena, dolorido.

Precisava, como sempre precisou –e explico com olho na história do futebol dito canarinho− de ter pelo menos dois excepcionais atacantes a desequilibrar as partidas e vencer. Não falo de notáveis em outras posições, só nos decisivos jogadores de ataque.

Sim, na Copa de 1930 teríamos o Pelé da época: Arthur Friedenreich, El Tigre, desde que não tivesse sido impedido de ir a ela por bairrismo, e só havia ele nesse nível: perdemos. Em 1934 e 1938, com a Itália bicampeã, dispúnhamos do fantástico Leônidas da Silva, o Diamante Negro, inventor da finalização chamada bicicleta. Deitou e rolou, marcou gols, chegando até mesmo a jogar descalço, à falta de chuteiras substitutas. Aliás, para se ter ideia da penúria dessa delegação, dizem que ela foi à França de carona em navio mercante! Perdemos as duas competições, em 38 ao menos conseguimos o terceiro lugar.

Quando veio a copa seguinte, no pós-guerra, de 1950, com o grande craque Zizinho (ídolo de Pelé), não conseguimos melhor: fomos (apenas) vice-campeões em casa, pois perdemos na final para o Uruguai. Isso no Maracanã lotado, a precisar apenas de um empate e fazendo o primeiro gol! Uma andorinha não faz verão.

Finalmente, em 1958, a redenção: fomos campeões com o que, para muitos, foram os dois maiores craques do futebol brasileiro: Pelé e Garrincha. O mesmo se repetiu em 1962, só que, no lugar de Pelé, machucado no segundo jogo, entrou o craque possesso Amarildo.

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A Copa de 1966, pode-se dizer: um ponto fora da curva. Num momento em que tínhamos a maior quantidade de craques da história, perdemos para uma preparação equivocada, com quarenta e sete atletas convocados, um técnico ultrapassado e jogadores em fim de carreira; sobretudo para uma inaudita violência em campo: Pelé foi caçado impiedosamente, com a complacência da arbitragem, até sair da competição. A Inglaterra foi campeã numa Copa que pareceu talhada para ela. Na de 1970, não só dois craques atacantes: Pelé, Tostão, Rivelino e Jairzinho deixaram tontos os gringos e vencemos gloriosamente, esbanjando categoria.

Mas só voltamos a ganhar outra Copa na de 1994 e o motivo não foi diverso. Contamos com o craque Romário, coadjuvado pelo outro, Bebeto. Da mesma maneira só veio outra Copa quando tivemos pelo menos dois excepcionais jogadores: Ronaldo Fenômeno e Rivaldo, com o Ronaldinho Gaúcho de lambuja.

Só posso concluir –os entendidos que me perdoem a ousadia– que o Brasil nunca mais foi campeão por não dispor de, no mínimo, dois atacantes fora de série, daqueles que desequilibram o jogo a nosso favor, seja pela criatividade, destreza e dribles desconcertantes, seja pela garra e amor à camisa. Tudo isso, ressalve-se, com um bom time de apoio, bem assim um técnico competente.

Espero que voltemos, no futuro, a incentivar essa qualidade que nos tornou especiais no mundo do futebol, não nivelados com jogadores europeus de inferior quilate. Ou seja, voltar a ser o único país a disputar todas as Copas, ganhar cinco delas e ter o justificado orgulho de ser a única nação a possuir o gênio incomparável do futebol: Pelé, patrimônio nacional e da humanidade.

Aqui, por enquanto, nos consola o joseense Casemiro.

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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