Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Não viajo mais, de jeito nenhum!

Assim esbravejava minha mulher, depois de uma viagem à Europa.

− Imagine, você viaja naquele bendito avião, nem sei se não vai cair. Leva mais de dez horas, espremida numa poltrona, apertada entre vizinhos nem sempre educados. É uma barulheira, uma comida miserável de ruim. Prefiro tostar o pãozinho adormecido no gás.  Quando você consegue enfim cochilar, os benditos acendem a luz na sua cara. Um horror.

Não desminto, viajar na classe econômica é dose, uma provação. Classe executiva e primeira classe só para políticos e altos funcionários, além de ricaços, que lhe olham com desprezo por cima dos ombros.

Exageros à parte, é só um desconforto, no começo e no fim da festa. O restante, oh, é maravilhoso.

Nem tanto, gente. Você imagina uma coisa e ela não corresponde.  Às vezes sim, outras não.

Para começar, as excursões de ônibus, geralmente para iniciantes e mal versados nas línguas, ou para quem já cansou de coçar a cabeça em programas planejados, como eu. Se o guia for bom, você vai com a sua cara e ele com a sua, tudo bem. Do contrário, a viagem já começa estragada.

No bendito ônibus tem os que só gostam de sentar na primeira poltrona. Os guias tentar impor um sistema de rodízio. Os da cozinha nem querem saber, ficam lá no fundão se sentindo donos da farra.

PUBLICIDADE

E os impertinentes? Falam alto, não param de falar, atormentam os guias. Têm sempre os atrasados, todo mundo já sabe quem está faltando.  Almoçar é problemático se o guia não dá indicações precisas. Quando você acha um restaurante, já faltam quarenta minutos, é correria. Cardápios em língua estrangeira, mesmo se você for um pouco versado, nem sempre acabam bem quando vem a comida. É outro tipo de cozinha. E não se esqueça de pedir sem pimenta.

Uma vez estávamos no aeroporto de Frankfurt, numa espera de horas.  Olhei no cardápio e indiquei à atendente o que supus fosse um sanduiche.  Meia hora depois lá vem a garçonete alemã, alta, bonita, com um sorvete rebuscado numa taça, cheio de coisas. Pensei, espero que não seja o meu pedido. Era. Eu rejeitei e levei uma bronca em um alemão superácido, parecia interrogatório da Gestapo.

Mas quem viaja precisa ter uma boa dose de fair play. Dificuldade tem toda hora, alfândegas, raios x, revistas pessoais, tira sapato, tira cinto, preenchimento de formulários para responder perguntas idiotas, agora em terminais eletrônicos. Decifrar placas não é mole. Nos hotéis, nem sempre as coisas são fáceis. Além da chatice de acordar às seis, malas no corredor às seis e meia, café às sete e saída às sete e meia. Não é fácil acostumar.

Na última viagem caí na besteira de entrar, desavisado e culposamente, nas escadarias para voltar ao meu apartamento num hotel de Genebra cuja recepção ficava no 32º andar, os apartamentos acima. Fiquei preso depois de passar pelas portas corta-fogo, numa escadaria com cheiro de obra e mofo, sem janelas. Depois de meia hora subindo e descendo, achei um telefone e falei com a recepção e vieram me resgatar: um mico. No dia seguinte, comentaram no ônibus sem dizer quem foi o tonto: no que fiquei bem quietinho.

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE