Foto / UOL/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Já mencionei aqui neste espaço algumas profissões novas que surgiram com as redes sociais e seus milhões de seguidores ávidos por novidades. Influenciador digital é uma delas; criador de conteúdo digital, é outra; especialista em marketing digital, uma terceira. Todas essas novas ocupações –e outras que eu até desconheço– estão em alta nos dias de hoje. Todas unidas para roubar seus “likes”, “hates” e comentários que irão fazer a fortuna de muita gente.

Acha que eu estou exagerando? Puro engano seu. A questão é que, enquanto nós encaramos o Instagram, Facebook etc. etc. como uma distração, essa gente encara como um “ganha-pão”. E além do pão, ganham mansões, apartamentos luxuosos, ferraris e porsches, viagens pelo mundo afora… tudo graças ao seu inocente dedinho dando engajamento para as redes sociais deles.

Até aí, nada demais se esses novos ricos da mídia fossem os que a gente se acostumava a ver com seus exemplos positivos, edificantes e motivadores. Quem não gostaria de seguir um Ayrton Senna, por exemplo? O cara mostrava quase todo fim de semana que a dedicação, o talento e a vontade de vencer faziam a diferença na vida dele –e poderiam fazer a diferença na vida de cada um de nós.

Da mesma forma, os ídolos do passado vendiam uma imagem absolutamente positiva para os seus fãs. Houve um cantor jovem, chamado Wanderley Cardoso, que fez um enorme sucesso com uma canção chamada “O Bom Rapaz”. Todos tinham inveja daquele cara do bem, apesar de a letra mostrar que, já naquele momento, isso não era um grande negócio: “Te amar demais / ser um bom rapaz / foi o meu mal”, cantarolava ele.

É bom não esquecer que artista de TV e cinema que quisesse se dar bem não podia ser casado, não podia se envolver em escândalo, tinha que se dar bem com a família, ter religião e outros “predicados”, como se dizia. Até gente como o Silvio Santos passou décadas escondendo a mulher ou o marido. Até que a esposa escondida do animador morreu de câncer e, hoje, ele confessa que negar a relação foi o maior erro da sua vida.

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Passaram-se os anos e, como o próprio Wanderley previra, a moda deixou de ser o bom rapaz e passou a ser o “bad boy”, o selvagem, o mal educado, o ignorante, o assediador… e por aí vai. Ah, o mesmo vale para as mulheres. Quanto mais escândalo todos provocarem, melhor para a carreira –e para a carteira.

A corrida por mais seguidores, engajamentos e influência nas redes sociais tem levado a um perfil inimaginável naquele romântico final do século 20. Entramos no século 21 sabendo que agora vale tudo mesmo, não só o inocente “dançar homem com homem e nem mulher com mulher” que o Tim Maia pensava que fosse o máximo da transgressão.

Você já percebeu que o segredo do marketing digital de hoje é a desconstrução dos seus campeões de audiência? A Angélica chacoalha um vibrador nas mãos; a Sabrina Sato diz que o ex-marido transava pouco; uma tal Núbia Ólliver estima que transou com mais de 400 homens, enfim…

Vale tudo para aparecer. Alguns influenciadores, como um tal Whindersson Nunes e outros coleguinhas dele passaram a ganhar dinheiro como boxeadores (!). Outros mostram seus aviões novinhos, seus carros que valem milhões de reais, suas excentricidades. Outro dia fiquei chocado ao saber dos detalhes da mansão daquela dançarina do Pânico na TV, a Nicole Bahls. Se não for mais uma mentirinha, a mulher mora em um palácio com 20 mil metros quadrados, 12 quartos e 22 banheiros (!!).

Agora me diga. Quando vemos uma ex-panicat dizer que ganhou tudo isso rebolando, como dizer aos nossos filhos, sobrinhos, netos etc. que eles têm que estudar, se dedicar a alguma coisa séria na vida? Certamente, vão rir da nossa cara.

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Espera aí, tem mais. A bola da vez são os barracos entre casais. Certamente, o sucesso desse pessoal se acusando mutuamente, separando-e-voltando-entre-tapas-e-beijos, se traindo, deve fazer um sucesso danado nos números deles nas redes sociais. E números geram dinheiro em publicidade, aparições na TV, convites para festas e outras mumunhas mais.

Tem também o lado mais “hard” da história, mas nem por isso menos lucrativo. Quando escrevo esta crônica, fico sabendo da “desconvocação” –palavra nova para tempos novos– do atacante Antony, da seleção brasileira deste que já foi um dia “o melhor futebol do mundo”, por causa de agressões verbais e físicas à sua namorada/mulher –você decide–, a DJ e influencer (logicamente!) Gabriela Cavallin.

É claro que, nestes novos tempos, é salutar que agressores e criminosos –de todos os sexos e gêneros– vão parar na cadeia pelos seus excessos e crimes. Mas, ao mesmo tempo, não dá para negar que toda essa muvuca tem também um efeito secundário: o aumento brutal do número de seguidores dos envolvidos. E isso, pelo bem ou pelo mal, vira negócio, business, money, cacau. Não fique surpreso se você ler, daqui a alguns dias, que o Antony e a Gabriela aumentaram em 1, 2 ou 5 milhões o seu time de seguidores. Ganha mais a moça, é claro, que não marca gols.

Como já deu para perceber, infelizmente, os tempos de “bom rapaz” e de “menina meiga” ficaram para trás. Agora, vale tudo. Tudo mesmo.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.

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