Angico-vermelho em foto na semana passada (à esq.) e o espaço vazio na terça-feira (à dir.). Fotos / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Prefeitura alega que havia risco de queda e retira angico-vermelho de 8 metros de altura da frente de drogaria recém-inaugurada

 

DA REDAÇÃO

A Vila Ema perdeu mais uma árvore na última segunda-feira (29). Desta vez a supressão determinada pela Prefeitura de São José dos Campos ocorreu no passeio público da esquina entre a avenida Heitor Villa-Lobos, a principal do bairro, e a rua Tomaz Antonio Gonzaga.

A retirada da árvore, um angico-vermelho com cerca de 8 metros de altura, foi feita com o uso de dois caminhões equipados com munck. Logo pela manhã, com rapidez, os operários cortaram a árvore e já fizeram a destoca da parte do tronco sob o solo e das raízes.

A supressão beneficiou a unidade da Drogaria São Paulo inaugurada no local há cerca de dois meses. Sem a árvore, o totem de identificação da farmácia ficou completamente visível. Antes, estava parcialmente encoberto.

Nos últimos anos, essa foi a terceira supressão de árvore no passeio público do mesmo terreno. O primeiro corte foi feito na lateral da rua Tomaz Antonio Gonzaga. O segundo, na avenida, a poucos metros do angico cortado nessa semana.

A avenida Heitor Villa-Lobos, antes totalmente arborizada, já perdeu praticamente todas as suas árvores públicas. Do local da última supressão, em direção à confluência da avenida com a rua Madre Paula de São José, já não existe nenhuma árvore plantada em passeio público.

Em direção ao supermercado Villarreal, a Heitor Villa-Lobos já não possui árvores de rua. Foto / SuperBairro

Prefeitura justifica

Acionada pelo SuperBairro, a Secretaria de Manutenção da Cidade (SMC) emitiu nota com a explicação padrão para esses casos. “A Prefeitura informa que, conforme laudo técnico, executou a supressão de um angico vermelho no citado endereço pelo fato de a árvore apresentar deficiência nas raízes de sustentação, com o consequente risco de queda. A supressão está respaldada pela Lei Municipal 5.097/1997”, disse a nota.

O SuperBairro pediu o envio do laudo que autorizou a supressão, mas a resposta foi a de que, na SMC, isso não seria possível. A orientação foi para que a solicitação fosse feita à Secretaria de Urbanismo e Sustentabilidade (Seurbs), que é a responsável pela feitura dos laudos, cabendo à SMC apenas a execução das medidas definidas.

O SuperBairro solicitou cópia do laudo à assessoria da Seurbs no final da tarde desta quarta-feira (1º) e, sendo atendido, incluirá o conteúdo do laudo nesta reportagem.

Também foi acionada pelo SuperBairro a assessoria de comunicação da Drogaria São Paulo. As perguntas enviadas pediam esclarecimentos sobre quem solicitou a supressão, quando foi solicitada e qual foi a justificativa para o pedido, entre outros questionamentos.

A assessoria da empresa registrou o recebimento das perguntas e prometeu retorno. Assim que as respostas cheguem ao SuperBairro, também serão incluídas neste texto.

A empresa respondeu os questionamentos na tarde desta quinta-feira (2) com a seguinte nota: “A Drogaria São Paulo esclarece que essa foi uma intervenção pontual realizada pelos órgãos competentes após análise que atestou a necessidade da retirada por questões de segurança”.

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Vizinhança critica

Moradora do outro lado da avenida, em frente ao local do corte da árvore, a dona de casa Umeno Ueno disse que foi surpreendida com o barulho da operação de supressão da árvore. “Achei que ia ser só mais uma poda, mas desta vez retiraram a árvore inteira”, lamenta.

Umeno, que reside há cerca de 20 anos no local, se lembra de que, no passado, lutou por mais de três anos para conseguir a supressão de uma árvore tomada por cupins, enquanto a retirada feita na segunda-feira foi rápida e eliminou uma árvore aparentemente saudável.  “Acho que deveriam fazer o replantio de uma nova árvore imediatamente e no mesmo lugar”, conclui.

A comerciante Gorete Louzane, que mora e possui uma pequena loja na rua Justino Cobra, a cerca de 200 metros do local da supressão, foi além. “Não aguentei e fui falar com a gerente da drogaria quando vi o pessoal retirando a árvore. A resposta foi que ninguém sabia de nada. Horas depois, a gerente fez contato e explicou que a árvore devia estar doente e pediram a supressão, sem especificar quem pediu”, conta.

Gorete pediu explicações à drogaria e revela queda na qualidade de vida no bairro. Foto / SuperBairro

Replantio é exigido

Vivendo na Vila Ema há 25 anos e membro do grupo de Vigilância Solidária da rua, Gorete reclama que o bairro vem perdendo suas árvores com muita rapidez. “Meses atrás, a rua Padre Rodolfo perdeu várias árvores enormes em frente de onde vai ser construído um prédio e também em frente à Igreja Sagrada Família”, diz.

A moradora observa ainda que o corte das árvores de rua prejudica a qualidade de vida na Vila Ema. “Reflete na qualidade do ar, os pássaros começam a desaparecer, entre outros problemas”, aponta. “É preciso fazer o replantio de tudo o que está sendo cortado, mas na Vila Ema mesmo.”

Amaral Júnior lembra que a avenida tinha muitas árvores: “tem que replantar”. Foto / SuperBairro

José Monteiro do Amaral Júnior, que mora em um edifício há cerca de 150 metros da Drogaria São Paulo e é comerciante em frente ao supermercado Villarreal, lembra que “a avenida era cheia de árvores e agora não existe mais nenhuma”. Segundo ele, o que se comentou é que o angico-vermelho “mexia com a rede elétrica”.

Júnior lamenta a perda das árvores da avenida. “Minha família vive e trabalha aqui há mais de 50 anos, é lamentável o que está acontecendo”, critica. Ele também defende o replantio de mudas no mesmo local da retirada das que estão sendo suprimidas.

 

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*Texto atualizado às 13h45 do dia 2/12//21 para inclusão de esclarecimentos da Drogaria São Paulo.