Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

– Bom dia, vizinho! Tudo bem? Como vai a patroa? Sarou dos herpes na boca?

Perguntei ao vizinho e logo pensei: deve ter esses herpes de tanto falar da vida alheia!

Ter vizinhos é tudo de bom, são amáveis, solidários, discretos e educados. Não fazem nem barulho. Você até esquece que eles existem, os encontros são sempre sorridentes, vigora a sinceridade.

Só que não. Bom se fosse assim, mas não é, exatamente. Eu me lembro daqueles dias de minha afastada infância, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Tínhamos uns vizinhos de frente, um horror, era uma espécie de cortiço. Não gostavam de nós, não sei o porquê. Acredito que puro despeito, inveja, sei lá. Chamavam-nos de ratos brancos. Hoje compreendo mais.

Anos depois um amigo me contou que uma vizinha implicava com os vizinhos que estacionavam seus carros em frente à casa dela, mesmo em área sem rebaixamento de guia. Fazia cara feia, chegava até a jogar sal grosso nas rodas dos indefesos carros. Não se sabe se seria para estragar ou uma espécie de macumba. Há décadas nem olha para a fulana. A criançada a chamava de Bruxa do 71, como no velho seriado.

Esse mesmo amigo –não digo quem, nem quando– gostava também de xeretar os vizinhos. Pois certa feita passou a acreditar que o seu vizinho –de aspecto sombrio para ele– havia cometido feminicídio, pois não via mais a mulher. Até que um dia sossegou, a suposta vítima estava vivíssima. Tudo não passou de sua imaginação fértil. Podia ser escritor.

Nos condomínios de prédios é até pior. Vizinhos, até de porta, não se dignam a dar bom dia, de alguns você não sabe nem o nome, nem eles o seu. Quando perguntam alguma coisa é para se inteirar da vida alheia e fazer fofoca. Ou para cutucar, jogando verde:

‒ Não vejo mais seu marido, fulana, aconteceu alguma coisa com ele? É um moço tão simpático.

Fofoqueira, diga que ele faleceu, não que você se divorciou, graças a Deus!

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Já tive vizinhos parentes: um horror. Parente parece que se acha no direito de dar palpites. Quando eu era bem pequeno, na então Vila Pompéia, na Paulicéia, havia um tio avô que morava em frente e vigiava a nossa casa –acredite– pela janela. Depois dizia à minha mãe:

‒ Cuidado com esse menino: está chupando o dedo e se debruçando na janela, qualquer hora cai. Eta boca ruim, dito e feito, caí.

Trate bem seus vizinhos. Seja solidário e deixe de xeretice. Nada de ficar com a orelha da Basf para saber o que rola ao lado. Mesmo com os mal-educados. Aliás, todo mundo tem problemas em casa.

Tia Filoca não pensa assim:

‒ É, mas esse vizinho, que não faz nadinha de nada durante a semana, escolhe justo o domingo para cortar grama com essa bendita máquina barulhenta. Dá vontade de cortar o cabelo dele com aquilo, estafermo!

Ainda bem que é só o cabelo!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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