Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Para quem nasceu em São José dos Campos, ou chegou aqui há bastante tempo, é difícil aceitar que aquela cidade em que as pessoas se conheciam –e quem chegava de fora era submetido a uma espécie de quarentena até merecer confiança–, mudou absurdamente.

Hoje, são quase 730 mil habitantes que se espalham por bairros e loteamentos que a gente nem sabe que existem. É gente que vem dos mais diversos lugares, de dentro do país ou do exterior. É tanta gente que é bem possível viver a vida inteira na cidade e nunca passar nem perto dessas pessoas.

Mesmo assim –e por isso mesmo– é preciso adotar uma certa cautela com quem você não conhece ou conhece apenas superficialmente. Porque, do mesmo modo que, digamos, a cada 100 pessoas que chegam a São José, 98 devem ser gente muito boa, duas ou três podem vir para cá com intenções menos pacíficas, ou menos honestas.

Cheguei a esta conclusão ao saber que o médico que se envolveu dias atrás, juntamente com a mãe, no homicídio de duas pessoas e deixando um padre ferido, na cidade de Peixoto de Azevedo, no estado de Mato Grosso, trabalhou em uma empresa de serviços de medicina no Jardim Aquarius, na região oeste de São José.

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Depois de ler a informação, fiquei matutando comigo mesmo e concluí que a gente não faz a menor ideia da índole de alguém que está almoçando na mesa ao lado da nossa em um restaurante, ou que para o carro emparelhado ao nosso no semáforo. Ou ainda, no caso do médico, alguém com quem você marca uma consulta e acha que o sujeito nunca cometeu um ato de violência na vida.

No caso do médico mato-grossense, ele cometeu os homicídios depois de deixar a cidade. Mas, convenhamos, um sujeito que atira em todas as pessoas que participavam de um almoço de aniversário e é suspeito de ter participado da morte de duas delas, assim como diz o samba antigo, “bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça, ou doente do pé”.

E já que um forasteiro leva a outro, e um médico leva a outro médico, veio à minha memória um fato semelhante ocorrido no último dia do mês de janeiro de 2023, bem no coração da Vila Ema, na região central. A polícia civil prendeu um falso médico que atendia em uma clínica no bairro.

O pior é que, além do exercício ilegal da medicina com uso de documento falso, o cidadão era suspeito de praticar um homicídio, em novembro de 2022, em uma cidade do interior de Pernambuco.  Depois, descobriu-se novos crimes do sujeito no estado de São Paulo, inclusive com ocultamento do cadáver da vítima. Pense em quantos pacientes esse cidadão deve ter atendido.

É claro que nós não podemos nos trancar dentro de casa e evitar qualquer pessoa não conhecida. Mas não custa nada ter cuidado. Não confiar demais, não se aproximar demais, pelo menos até que exista um mínimo grau de confiança. Na dúvida, fale com amigos e conhecidos, pesquise nas redes sociais do “suspeito”, enfim, procure saber com quem você está lidando.

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Cidades pequenas possuem o seu FBI caboclo, acompanham quem chega à cidade em todos os lugares, dia e noite, dia útil, domingo e feriado, até que o veredito coletivo seja proclamado: inocente ou culpado.

Em uma cidade como a São José de hoje, no entanto, isso é quase impossível. São milhares de lojas, centenas de clínicas, consultórios, restaurantes, bares e outras opções por onde qualquer um pode passar como um ilustre desconhecido.

Já que um pensamento leva a outro, me lembrei de uma notícia prevendo que o bairro que será erguido no famoso “terreno das vaquinhas” –ou seria dos girassóis?–, em frente ao Jardim Aquarius, deverá receber nada menos que 22 mil pessoas nos seus edifícios de apartamentos, casas térreas e sobrados.

Com certeza, dessas 22 mil pessoas, quase todas merecerão a reconhecida hospitalidade que São José dos Campos sempre dedicou a quem vem de fora. Mas alguns deles trarão consigo um passado não recomendado, esconderão crimes cometidos, talvez queiram continuar a vida torta em terras joseenses.

Nesse caso, não custa nada aplicar o velho ditado: “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.

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