Escola Cel. João Cursino, na Praça Afonso Pena. Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

–– Moço, você não trouxe três dos livros que já leu, como constava da sua matrícula, para examinarmos em aula! Sua nota, já neste primeiro dia, é zero quadrado!

E cruzava os dois dedos da mão sobre os dois dedos da outra, uma espécie de hashtag (jogo da velha). Assim o fazia um velho e bom professor de São José dos Campos, naqueles fermentados anos sessenta.  Era o primeiro dia do ano, volta às aulas, e esse professor já avisava que queria os livros, para analisar em classe o nível de leitura de cada aluno.

Segundo esse amigo que isto me relatou, ele foi precisamente o protagonista do zero quadrado, pagou mico, como dizem hoje, pois nada trouxe, conquanto fosse leitor voraz, mas desatento. Zero simbólico, evidente, era para chamar a atenção da importância dos livros logo no início do ano letivo.

Externato São José, na avenida Dr. Nelson D’Ávila, demolido em 1977. Foto / Reprodução

“Uma nação se faz com homens e livros”, proclamou o excepcional escritor Monteiro Lobato, eternizando nesse meme a vital importância tanto do homem como do livro.

Não é preciso repetir a respeito da essencialidade dos livros a nenhum estudante –hoje o dia inteiro entretido no aparelho celular, muito mais que mero telefone, um virtual microcomputador de bolso, com joguinhos, tiktok, youtube, facebook e outras redes sociais, em conversas sem fim com amigos, vendo clips etc., enfim uma maravilha midiática.

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O livro, ao contrário do que pensam os menos atentos, não foi superado não.  Nem pelos jornais, como supunha o próprio Machado de Assis, nem pelo teatro, nem pelo cinema, nem pelo rádio, nem muito menos pela TV. É nos livros que todos −sim, todos– os profissionais se formam, mesmo com uma mínima base teórica.  Todas as teorias, aliás, literárias, políticas, científicas não dispensaram como não dispensam os livros.  A única inovação −se você não amar, como eu amo o velho e cheiroso papel impresso– é o livro no formato eletrônico.

Seria ocioso, truísmo mesmo, repetir a essencialidade do livro, muitos devendo sua formação ─e alguns grande destaque− pelo bom hábito de ler desde a infância. Vira uma paixão, jovem. Ajuda em todas as etapas e situações da vida, tanto na escola, como na vida profissional e, por que não dizer, na artística.

Preocupam muito nos últimos anos notícias de dificuldades experimentadas no país pelas escassas grandes redes de livrarias, como Saraiva e Cultura. Em “Cartas de Amor aos Livros”, de Luiz Schwarcz, ressalta esse editor que: “Ninguém mais precisa salvar os livros de seu apocalipse, como se pensava em passado recente. O livro é a única mídia que resistiu globalmente a um processo de disrupção grave”, embora o preocupe a situação específica do Brasil. Ou seja, sobreviveu o livro às novas mídias e não pense –jovem– que veio lhe retirar o celular, veio antes complementá-lo. Ou o inverso. Há lugar para todos, mas como pontifica a minha sempre atenta tia Filoca:

–– Leia os livros e viaje em mundos maravilhosos, dê uma pausa no celular e alavanque o seu desenvolvimento pessoal. Se não, ganhará zero quadrado na vida!

Turma de alunos do Ginásio Estadual Prof. Álvares Cruz, na Capital, em 1962. Foto / Arquivo pessoal

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em Direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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