Eram 20h41 de segunda-feira da semana passada quando o sinal sonoro do celular me alertou para nova mensagem no WhatsApp. Tratava-se de uma amiga do Grupo dos “Véios”, dos poucos de que participo na plataforma.
Conto dezesseis. Exceto por um ou dois, os demais têm entre 60 e 70 anos, justificando, pois, o nome do grupo. Nem por isso falta entusiasmo para essa turma que, ligeirinha, ateia fogo no cachimbo quando é para se encontrar para comer um churrasco, uma pizza, uma frangada ou um suã com arroz. Com boa conversa, muitas risadas e cerveja gelada.
A azeitada engrenagem que move tais vovôs e vovós funciona assim: durante a reunião, o mais ocupado, por suas atividades sociais e profissionais, mune-se de um calendário e sugere data do próximo rega-bofe, contemplando a disponibilidade da maioria. Outro, se propõe a recepcionar.
Se houver coincidência ou proximidade com o aniversário de alguém, melhor. Mais um motivo para comer, beber e festejar. Trava-se breve debate com réplicas e tréplicas sobre a data sugerida, mas em instantes chega-se a um consenso. Quem faltar vai virar assunto, alguém avisa, brincando.
A “moçada” não mede esforços para se juntar. Basta a troca de meia dúzia de figurinhas pelo Whatsapp para cada um pegar sua caixa de remédios, a vara de pesca, algumas peças de roupa, o que mais for necessário; e pinotear.
Nova fase dessa tertúlia começou em Cristina (MG), na sede da Fazenda Amarela, erguida por mãos escravas. E lá se vão quase vinte anos de alegres e divertidas reuniões cujo palco, normalmente, é uma propriedade rural de membros do grupo.
Cada um se esforça para arrastar os filhos, de forma que também cultivem fortes laços de amizade. Por um acordo tácito, tarefas como arrumar as camas, limpar o lugar, preparar os alimentos, lavar a louça e recolher o lixo são de todos. Não raro ocorre de a galera se reunir num restaurante ou pizzaria; ou na casa ou apartamento do outro.
Em duas ocasiões a turma foi para uma fazenda de gado em Mato Grosso. Na última, saiu de madrugada, rodou 1.400 quilômetros e foi parar em Barra do Garças, numa louca viagem de 15 horas. Ficou lá cinco dias, curtindo a região e as atividades da fazenda.
O grupo conheceu amiúde a vasta propriedade num tour na carroceria da caminhonete tracionada do anfitrião, passando sobre cursos d’água, cupinzeiros, galhos de árvores, topetes; experimentando mil solavancos. Os vovôs até ajudaram na pesagem dos brutos nelores, novidade prazerosa.
O encontro terminou com um churrasco de confraternização da “velharada” com os funcionários da fazenda. Teve cerveja, moda de viola e arrasta-pé. No dia seguinte, bem cedo, todos arrumaram as tralhas e puseram o pé na estrada, de volta para casa.
A viagem de carro até Barra do Garças é cansativa, mas vale a pena pelas belas paisagens e pelo despertar do bicho aventureiro em cada um desses animados idosos que, não obstante, já decidiram: na próxima, vão de avião!
Não é o boi berrando na grelha, nem a brasileiríssima caipirinha e tampouco a cerveja trincando. Une essa galera quase setentona uma amizade cinquentona, dos idos de 1970, quando a maioria frequentava as conferências vicentinas no Jardim Paulista, desenvolvendo ali ações em prol dos mais carentes.
A propósito da mensagem de WhatsApp, “gancho” para esta crônica, era só para acertar os detalhes do encontro do feriado prolongado de Nossa Senhora Aparecida, no Sítio Providência, no pé da serra.
E para compensar o deserto produzido pela pandemia, três outros já foram agendados antes que 2022 bata à porta, pois, malgrado as juntas enferrujadas, no Grupo dos “Véios” ninguém é de ferro.
> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.